AVISOS PAROQUIAIS
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
A Vocação ao Amor da Mimosa Flor de Jesus, Maria e José.
Introdução:
² No mês de Setembro de 1843, um jovem rapaz de vinte anos subia, pensativo e sonhador, o cimo elevado do Grande São Bernardo. Seu olhar profundo e melancólico reluzia com piedoso entusiasmo; as belezas imponentes desta grandiosa natureza dos Alpes faziam nascer em sua alma mil pensamentos generosos, e não podendo mais seu coração, ardente e puro como a neve eterna das montanhas, conter a onda sempre crescente de seu amoroso louvor, ele se deteve por algum tempo e derramou suas lágrimas... Depois retomando sua caminhada interrompida, chegou logo à meta de sua viagem: o mosteiro bendito, que do alto desse cimo perigoso brilha ao longe como um farol de esperança e de deliciosa caridade.
O venerável prior, tocado de imediato pela fisionomia do jovem rapaz, ao qual o nome lhe pergunta, lhe passa a ser sabido que o nome daquele jovem era Luís José Estanislau Martin, nascido em Bordéus, aos 22 de agosto de 1823.
O jovem Estanislau Martin não estava apenas a passeio, mas, buscava com intenso anseio um exílio para repousar sua alma até o seu despertar para o Céu... O respeitável religioso ao dar por conhecido o motivo de tão jovem rapaz estar em seu mosteiro lhe pergunta se o mesmo já havia concluído os estudos de latim, tendo então uma resposta negativa por parte de Estanislau o prior diz que naquele momento seria impossível o ingresso do mesmo ao mosteiro, pois era de extrema importância conhecer a língua latina. Então, assim Estanislau Martin retorna para sua pátria um pouco triste e desapontado.
Por outro lado, na cidade de Alençon- alguns anos mais tarde-, uma piedosa moça, senhorita Zélia Guérin, sobre cujo rosto imprimia-se delicadamente a marca de uma rara energia de caráter, apresentava-se acompanhada de sua mãe, ao Hospital das Irmãs de são Vicente de Paulo. Já há muito tempo, queria solicitar sua admissão neste asilo de caridade, mas, desde a primeira entrevista, a Madre Superiora, guiada pelo Espírito Santo, respondeu-lhe sem hesitar que aquela não era a vontade de Deus. Zélia retorna então, à doce casa paterna ao lado de sua família.
Diante dessa infrutuosa ação, Zélia Guérin faz uma prece a Deus: “Meu Deus, já que não sou digna de ser vossa esposa como minha querida irmã, assumirei, então, o estado de matrimônio para cumprir vossa santa vontade. E assim, eu vos peço: daí-me muitos filhos, e que todos eles vos sejam consagrados”.
Aos 12 de Julho de 1858, José Estanislau Martin toma como sua legítima esposa, diante de Deus e dos homens, Zélia Guérin, aquela com a qual formaria uma família composta por oito filhos, aos quais cito os nomes: Maria Luísa, Maria Paulina, Maria Leônia, Maria Helena, José Maria, Maria Celina, Maria Teresa, MARIA FRANCISCA TERESA.
Há 2 de janeiro de 1873 às 23:30 na rua Saint Blaise, nº 36 (atualmente nº42), nasce Maria Francisca Teresa Martin. “A Rainhazinha, pode-se ver, foi bem acolhida, e, como vinha ao mundo em tempo de Natal, os anjos também cantaram sobre seu berço. Emprestaram para este oficio a voz de um menino pobre que veio bater timidamente, naquele mesmo dia, á porta do lar feliz, entregando um papel no qual estavam escritos estes versos:
Sorri e cresce depressa;
À felicidade, tudo te chama:
Ternos cuidados, terno amor...
Sim, sorri para a aurora,
Botão que acabas de desabrochar,
UM DIA, ROSA SERÁS!...
“Escolho Tudo!”
“Eis o mistério de minha vocação, de minha vida toda inteira, e, sobretudo, os mistérios das predileções de Jesus por minha alma...”
Com esta frase dita por santa Teresinha com relação à passagem bíblica (Mc 3,13), venho a dar continuidade ao que a mesma já havia dito em sua autobiografia, “a flor que vai contar sua história, alegra-se em publicar as liberalidades inteiramente gratuitas de Jesus; reconhece que nada há em si capaz de atrair os olhares divinos e que somente a misericórdia fez o bem que nela há...” O grande desejo da pequena flor de Jesus, Maria e José era de dar a conhecer a Deus todos os homens.
Teresinha desde tenra idade teve grande anseio de Deus e do céu, que acreditou piamente em ambos durante toda sua breve existência, fielmente educada na doutrina católica por seus pais, a santa compreendeu muito bem qual era sua vocação. “Quando dei com a perfeição compreendi que para se tornar santa era preciso sofrer muito, procurar sempre o mais perfeito e esquecer-se a si mesma, compreendi que havia muitos graus na perfeição e que cada alma era livre de responder às solicitações de Nosso Senhor, de fazer pouco ou muito por Ele, numa palavra, de escolher entre os sacrifícios que Ele pede. Então, como nos dias de minha infância exclamei: ‘ Meu Deus, escolho tudo. Não quero ser santa pela metade, não tenho medo de sofrer por Vós; a única coisa que temo é guardar minha vontade, tomai-a Vós, pois “escolho tudo” o que quiserdes!...”
A santa tinha conhecimento da vida de diversos santos, daqueles que haviam dado a Deus aquilo que a olhos humanos acaba por ser “pouco”, mas diante dos olhares de Deus é “tudo”, e até mesmo de alguns mártires que a impressionaram por tamanha coragem e confiança, nos quais a mesma buscara exemplos a ser seguido.
Teresinha queria ardentemente ser martirizada por amor a Deus, mais a florzinha primaveril sob olhares divinos entende a vontade do “Bom Deus” e diz: “... compreendi que todas as flores que Ele criou são belas, que o esplendor da rosa e a brancura do lírio não tiram o perfume à violetinha e a encantadora simplicidade à margarida... Compreendi que se todas as flores quisessem ser rosas, a natureza perderia seu ornato primaveril e os campos não seriam mais esmaltados de florzinhas...”.
Ela havia compreendido que não existe vocação mais importante ou menos importante, mas que aos olhos de Deus todos tem seus devidos reconhecimentos. Ainda tão nova em idade e já lhe havia Deus concedido conhecer qual seu desejo em ralação à humanidade. E por suas irmãs de sangue, tão logo foi reconhecido este vinculo fraterno de Deus para com Teresinha, e vice-versa, e como afirma Ir. Genoveva “... Pudesse eu assemelhar-me a ela!”
Mas a vocação de Teresinha não se limita ai. A mesma em seus escritos diz respeito a uma “Pequena Via” a qual segundo ela agrada muito a Deus, e ao longo de seus extraordinários escritos nos vai esclarecendo o que seria tal via.
“Minha vocação é ser o amor no coração da Igreja”.
Eis a que se resume sua pequena via “indico-lhe a via do amor e da confiança”, para a santa o que agrada ao “Bom Deus” não são os grandes sacrifícios, mas sim o amor e a confiança que se tem em Deus. “Ah! Se soubésseis!”. À santa foi revelado o extremo amor de Deus pelos homens, ao qual não poderia ser retribuído senão com o próprio Amor. No mês de Julho ao qual precede sua morte diz à madre Inês de Jesus “Minha Mãe, é a via da infância espiritual, é o caminho da confiança e do total abandono. Quero lhes ensinar os pequenos meios com os quais me saí tão bem; dizer-lhes que só há uma coisa a fazer aqui na terra: lançar sobre Jesus as flores dos pequenos sacrifícios...”. Teresinha diante de tamanho esclarecimento da parte de Deus finalmente compreende sua vocação em sentido mais profundo, e proclama “... minha vocação é ser o amor no coração da Igreja...”, “Eis o mistério de minha vocação, de minha vida toda inteira, e, sobretudo, os mistérios das predileções de Jesus por minha alma...”.
E com esta alma asceta e mística Teresinha foi abrasada no Amor de Deus.
No dia 30/09/1897 Teresinha tem o seu despertar para o céu com apenas 24 anos de idade, falece por volta das 19:20, vitima de tuberculose, diante de toda a comunidade, e nas horas que precede sua morte diz às suas irmãs de comunidade, “Tudo o que escrevi sobre meus desejos de sofrer, oh, apesar de tudo, é bem verdade! Não! Não me arrependo de me ter entregado ao Amor! Oh! Não me arrependo; ao contrário”.
³ “Com efeito, a 10 de Junho de 1914 Pio X assinava o decreto de introdução da causa de beatificação; a 14 de Agosto de 1921 Bento XV declarava a heroicidade das virtudes da Serva de Deus, pronunciando nessa ocasião um discurso sobre a via da infância espiritual; e Pio XI proclamava-a Beata a 29 de Abril de 1923. Pouco mais tarde, no dia 17 de Maio de 1925, o mesmo Papa diante de uma imensa multidão, canonizava-a na Basílica de São Pedro, pondo em evidência o esplendor das suas virtudes, assim como a originalidade da sua doutrina; e dois anos depois, a 14 de Dezembro de 1927, acolhendo o pedido de muitos Bispos missionários, proclamava-a, juntamente com São Francisco Xavier, Padroeira das missões.”
Por tudo que santa Teresinha havia vivido e ensinado a homens e mulheres, “não é para admirar, por isso, que tenham sido apresentados muitos pedidos à Sé Apostólica, a fim de que lhe fosse atribuído o título de Doutora (Ciência do Amor) da Igreja universal.”
E o Papa João Paulo II por ocasião do doutoramento da santa diz em sua homilia: ³“Hoje, 19 de Outubro de 1997, na Praça de São Pedro, repleta de fiéis provenientes de todas as partes do mundo, estando presentes numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, durante a solene celebração eucarística proclamei Doutora (da ciência do Amor) da Igreja universal Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, com estas palavras: Vindo ao encontro dos desejos de um grande número de Irmãos no Episcopado e de muitíssimos fiéis do mundo inteiro, ouvido o parecer da Congregação para as Causas dos Santos e obtido o voto da Congregação para a Doutrina da Fé naquilo que concerne à eminente doutrina, com conhecimento certo e ponderada deliberação, em virtude da plena autoridade apostólica, declaramos Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, virgem, Doutora (da ciência do Amor) da Igreja universal. “No nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”
A partir de então todos nós, cristãos, podemos confiar piamente na interseção desta grande santa, como ela mesma nos disse: “Quando estiver no céu, farei muitas coisas... É impossível que não seja assim, pois é o Bom Deus, Ele mesmo, quem me dá este desejo. Estou certa de que Ele vai me atender!... será preciso encher, muitas vezes, minhas mãozinhas de orações e sacrifícios para dar-me o prazer de jogá-los, como chuva da graças, sobre as almas”, supliquemos então os auxílios de santa Teresinha sobre nossa vocação, afim de que sejamos todos iluminados por Deus sobre nossa vocação como foi santa Teresinha.
E tenhamos sempre em nossos corações os ensinamentos desta extraordinária santa. E como ela mesma disse “Crede-me: é preciso não esperar o dia seguinte para começar a ser santa”.
Que estas breves palavras sobre santa Teresinha possa nos fazer conhecer melhor a vontade do “Bom Deus”, e assim podemos através dela e de sua pequena via encontrar o verdadeiro significado de nossa existência. E sempre que precisarmos de auxilio invoquemos a intercessão de Teresinha como ela mesma disse: “Vós me chamareis de Teresinha”.
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¹Sem.Filhos da Sagrada Família, J.M.J. Acadêmico de filosofia pela PUC
²Relatos feitos do próprio punho de Madre Inês (irmã de Teresinha) para a primeira edição de História de Uma Alma (1898).
³ Carta Apostólica de Sua Santidade João Paulo II sobre o Doutoramento de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face.
Bibliografia:
-Obras Completas da santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face – editora Paulus, São Paulo, 2002.
-Divini Amoris Scientia- Carta Apostólica do Papa João Paulo II, a respeito do doutoramento de santa Teresinha. Roma, 1997.